Meu refúgio

Sentimentos e Poesias

Textos


Adeus meu coração
     Na luta pela vida, minha irmã querida, Lú como era chamada carinhosamente.
     No leito de hospital, submetida a procedimento cirúrgico para implantação de uma válvula no seu coração. Válvula esta que foi recebida com muita emoção, pois, ali ela depositava a esperança de viver um pouco mais para cuidar do seu filho Clayton, acometido de deficiência intelectual, que sem pai, tinha apenas a mãe responsável pelos cuidados que precisava.
     Lú lutou pela vida com todas as suas forças e emoção. Ao receber alta hospitalar, seu coração pulsava e saltitante com alegria e emoção.
     Após alguns meses, nos seus cinquenta e poucos anos de idade as batidas do seu coração apertado exigia a necessidade da trocar a válvula por outra definitiva.Isto a levou novamente a intervenção cirúrgica, e mesmo assim, continuava uma pessoa linda, vaidosa e super mãe.
     Chegou o grande dia, o dia da esperança de uma nova vida, segue com a alegria que tomou conta do seu coração, pois chegara a hora  do seu coração bater aceleradamente com muita emoção
     Internada na Santa Casa de Votuporanga, sua fé em Deus e na equipe médica levou-a a motivação e a esperança de dias melhores, pois, chegou a alta hospitalar momento único da sua vida.
     Ledo engano, após a cirurgia, já na sua casa a falta de ar se apropriou de seus pulmões levando-a mais internações. Desta vez foi acompanhada pelo pneumologista, o qual nem vou citar seu nome, não por respeito, mas por despeito mesmo, por ter decidido a fazer um exame sem comunicar a família e a própria paciente da real situação.
     Porém, após observação da minha irmã, havia uma incisão  imensa ao lado do pulmão direito, coberta com curativo. A partir deste exame sua situação de saúde ficou cada vez mais crítica, ninguem conseguiu encontrar este médico para nos dar informações do ocorrido. Em consequência, passou a não ter vida própria, não conseguia realizar as atividades da vida diária, tais como, até cuidar da sua higiene pessoal. Sua vida passou a ser praticamente internada no Hospital e respirando por tubo de oxigênio, diuturnamente até em casa quando os medicos davam alta hospitalar para que ela não permanecesse tanto tempo internada e ser acometida de infecção hospitalar.
     A distância da Capital de São Paulo até a cidade de Votuporanga, para nós irmãs era um tormento, pois a viagem era no mínimo seis horas, assim sendo era necessário aproveitar os feriados prolongados para irmos visitá-la. Isto em consequência do meu trabalho, o que nos impedia de ficar com ela lado a lado, onde a responsabilidade ficara apenas para outra irmã que residia nesta cidade.
     Lembro-me como se fosse hoje, mês de junho de 2010, aproveitando o feriado, um dia antes, após o trabalho dirigi-me à rodoviária e as vinte e três horas segui viagem com destino a Votuporanga, cheguei às cinco da manhã, e, ao adentrar, a encontrei melhor, mas com oxigênio aliviando sua respiração.
     Por volta das oito horas da manhã, após sua higiene pessoal e tomar o café, fomos para a varanda da casa e lá ficamos a conversar, matar a saudades e relembrando nossas histórias, bem como, socializando as novidades. Neste contexto ela demonstrava muita fé que iria sair desta agonia e viver em família, especialmente cuidar de seu filho, foi um dia promissor, apesar do sofrimento e esperança de todas nós.
     Lú, estava com os pés inchado e eu os aconcheguei no meu colo comecei a fazer massagens, assim aliviando um pouco mais.
     A noite, jantamos e fomos dormir, fiquei fazendo companhia pra ela, pois assim dava um pouco de descanso para a Tica, a minha irmã que era a cuidadora dela. Mas era tão difícil ficar ali ouvindo o barulho do oxigênio e ela tossindo e gemendo, nossa, como doía meu coração, não preguei os olhos, fiquei quietinha, mas de olho nela, caso precisasse da minha ajuda.
     Passamos por mais um dia, à noite, ela começou a tossir muito forte e mesmo assim preocupada comigo porque há duas noites não tinha dormido, então ela disse : vá dormir no outro quarto assim você descansa, se precisar te chamo, eu estava muito cansada que decidi ir para o outro quarto, mas deixei a porta aberta, consegui cochilar muito pouco, pois ela começou a passar mal e me chamou, eu e a minha irmã Tica levantamos correndo, fomos até seu quarto, lá. estava com febre, a levei para o banheiro dei-lhe banho enquanto minha outra irmã fazia a higiene na cama, e, imediatamente ligamos para o SAMU, que prontamente chegou.Esta é a diferença em morar em cidade do interior, tudo se torna mais acessível.
     A acompanhamos minha irmã Lú até a Santa Casa de Votuporanga, e lá ficou internada, era 23 de junho. Voltamos pra casa,no horário da visita retornamos a visitá-la, estava ofegante, mas, mesmo assim se lembrou que no dia seguinte era meu aniversário, então ela disse: Tonha, era assim que me chamava, amanhã você faz aniversário e eu aqui no Hospital, nossa, meu coração partiu, mas fiquei firme e disse-lhe: Amanhã vou comprar um bolo e você vai estar comigo e cantaremos parabéns juntas, ela deu um sorriso e perguntou se o seu filho estava bem, ele a visitava todos os dias.
     Chegou o dia 24, mas ela não teve alta hospitalar, então fomos visitá-la, porem eu precisava retornarr para São Paulo no dia vinte e cinco as vinte e três horas.Aproveitei o dia e retornei ao Hospital, conversamos um pouco, mas ela muito cansada, com o coração partido  me despedi.
     Retornei para São Paulo e ela continuou internada até meados de julho.
     No trabalho, as dez horas da manhã senti uma sensação de tristeza e lembrança da minha irmã que ficara naquele hospital por tanto tempo, isto deixou-me agoniada, estava sem crédito no meu celular  então pedi para minha querida amiga Francilene emprestar o seu celular para que pudesse fazer a ligação, pois estava com uma tristeza no meu coração. Liguei para casa de minha irmã Tica e perguntei sobre a saúde da Lú, ela respondeu que estava aguardando o horário da visita, passou-se duas horas exatamente, as doze horas recebi a ligação do meu filho dizendo: mãe não tenho notícias boa, em seguida respondi: Lu faleceu, ele confirmou. Fiquei a chorar desesperadamente, pois meu trabalho ficava há duas horas da minha casa e eu estava sem condições de utilizar transporte coletivo. Nesta agonia minha minha amiga deslocou transporte do trabalho e acompanhou-me até em casa e aguardamos meu filho chegar. Reunimos as outras duas irmãs que moram aqui em São Paulo e fomos para casa do meu filho pegar minha nora. Já era noite, pegamos a estrada, chegamos no velório as duas horas da manhã, ela estava tão linda parecia estar dormindo. Então, fiquei sabendo que ela  havia falecido as dez horas da manhã, coincidência , não sei explicar, pois foi o mesmo horário que fiquei agoniada para saber sobre ela.
Só Deus pode explicar!
Tonia Aleixo
Enviado por Tonia Aleixo em 18/12/2014
Alterado em 18/12/2014


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